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Que características as crianças herdam antes do nascimento?

Pontos-chave:

  1. A aprendizagem começa no útero; o bebê reconhece a voz da mãe, aprendem padrões de linguagem e sabores da dieta materna.
  2. O estresse durante a gravidez pode desencadear mudanças epigenéticas, afetando a saúde a longo prazo do bebê e a suscetibilidade a certas condições. Promover uma gravidez saudável é crucial para o bem-estar da próxima geração.

Quando nossas células começam a aprender? Quando o aprendizado começa? Os nove meses que passamos no útero são cruciais. Nós aprendemos sobre o mundo ao nosso redor sem mesmo estar nele.

A expressão genética nos torna quem somos, e ela varia de acordo com nosso modo de vida. Nós interagimos e trocamos constantemente com o nosso ambiente. Nossos sentimentos – quão solitários ou felizes nos sentimos – são profundos, e controlam nossas células. Então, quando essas células começam a aprender? Quando o aprendizado começa? Os nove meses que passamos no útero são cruciais. Aprendemos sobre o mundo ao nosso redor sem estar nele ainda. Essas mudanças hereditárias na expressão genética que não envolvem mudanças na sequência de DNA são também conhecidas como Epigenética.

O que um bebê aprende no útero?

Um bebê pode começar a ouvir a voz de sua mãe aos quatro meses de gestação. Os sons do mundo exterior viajam pelos tecidos abdominais da mãe e pelo líquido amniótico que envolve o feto. O feto está constantemente ouvindo a voz de sua mãe e, quando o bebê nasce, ele rapidamente a reconhece. O bebê prefere a voz dela acima da de qualquer outra pessoa. Ele se acostuma tanto a ouvir a voz de sua mãe, que é possível dizer até que ele nasce chorando na língua nativa de sua mãe. Um estudo mostrou que bebês franceses nasceram chorando em uma nota crescente, enquanto bebês alemães choravam em uma nota decrescente, características parecidas com os padrões dessas línguas. Os bebês nascem imitando a linha melódica do seu futuro idioma. Esse aprendizado tem um propósito: os bebês preferem a voz da mãe porque ela os protegerá, e choram “como a mãe” para criar laços afetivos mais fortes com ela. Isso sem falar nas vantagens para o desenvolvimento linguístico!

Os bebês também desenvolvem o paladar e o olfato perto do sétimo mês de gestação. Os sabores e temperos da comida que sua mãe come viajam para o líquido amniótico, que é constantemente engolido por eles. Os bebês se lembram desses gostos e demonstram preferência por eles, já que se tornaram familiares. Esses bebês já estão tendo contato com uma cultura específica na qual serão introduzidos em breve. Eles já têm uma ideia da culinária dessa cultura!

Embora todo esse aprendizado influencie certas preferências, ele vai além do desenvolvimento, por exemplo, de uma preferência por comidas picantes. Nove meses de formação e adaptação são muito importantes. Um bebê também aprende muito a partir dos níveis de estresse e das emoções da mãe durante a gravidez.

Um poderoso exemplo dos efeitos adversos dos altos níveis de estresse durante a gravidez foi desencadeado pela Segunda Guerra Mundial. O chamado “lnverno da fome holandês” durou de novembro de 1944 até a primavera de 1945, durante o controle alemão na Holanda. O bloqueio alemão resultou em um evento catastrófico, pois as tropas alemãs bloquearam a Holanda Ocidental, impedindo que os carregamentos de comida entrassem no país. Os holandeses ficaram limitados a apenas 500 calorias por dia (um quarto de sua ingestão diária normal) e tiveram que lutar para sobreviver. Esse evento terrível criou uma população de estudo científico. Devido à excelente infraestrutura de saúde e manutenção de registros na Holanda, esse grupo bem definido pôde ser acompanhado e estudado em relação aos efeitos de longo prazo. O peso das crianças – que estiveram no útero durante esse período terrível – ao nascer foi amplamente afetado. Décadas depois do “Inverno da fome”, os pesquisadores documentaram que os indivíduos nascidos logo após aquele período tiveram taxas mais altas de obesidade, diabetes e doenças cardíacas em comparação com outros. Esses indivíduos também tiveram taxas mais altas de hipertensão, colesterol ruim e intolerância à glicose.

Por que a má nutrição no útero leva a esses resultados a longo prazo? O feto tem como objetivo sobreviver sob circunstâncias adversas, e é forçado a se adaptar. Nesse caso, as mães enfrentavam escassez de alimentos, de modo que precisavam desviar nutrientes para órgãos essenciais, como o cérebro, e para longe de outros órgãos, como o fígado ou o coração. Portanto, esse feto se torna capaz de sobreviver a curto prazo, mas sofre consequências a longo prazo. Os órgãos que foram privados de nutrientes tornaram-se vulneráveis ​​a doenças. Os fetos se preparam para qualquer perigo externo – eles recebem informações do ambiente e ajustam sua fisiologia de acordo com elas. Eles se antecipam, desenvolvendo um senso de escassez ou abundância, e se adaptam para facilitar sua sobrevivência.

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Outro fato aconteceu em 11 de setembro de 2001. Dezenas de milhares de pessoas estavam próximas ao World Trade Center, em Nova Iorque, quando ele foi atacado. Entre as pessoas que sofreram danos físicos e psicológicos devido ao ataque, estavam aproximadamente 1.700 mulheres grávidas. Pesquisadores examinaram um grupo de mulheres que estavam grávidas durante este evento. Uma grande quantidade delas desenvolveu TEPT (transtorno do estresse pós-traumático) após o evento, e os pesquisadores descobriram um indicador biológico de suscetibilidade ao TEPT – um efeito amplamente evidente em bebês cujas mães haviam passado por esse evento horrível no terceiro trimestre. Assim, as mães que desenvolveram TEPT transmitiram aos seus fetos a suscetibilidade a essa condição. Esse transtorno ocorre como uma reação ao estresse decorrente de eventos imprevisíveis, chocantes e altamente prejudiciais. A pessoa adquire uma consciência aumentada do ambiente, reagindo rapidamente a qualquer perigo potencial que possa prejudicá-la. Nesse caso, a reação seria de adaptação em certas circunstâncias, especialmente em ambientes perigosos. A mãe adverte seu filho em relação aos potenciais perigos, comunicando “o mundo é perigoso e você deve tomar cuidado”.

O que uma mulher grávida encontra no seu dia a dia – o ar que ela respira, o amor que ela sente, os produtos químicos aos quais ela é exposta e as emoções que ela vive – é compartilhado. O bebê recebe essas contribuições da mãe, tornando-as suas. Então, como podemos promover o bem-estar e a saúde para a próxima geração? Devemos estar conscientes de que a aprendizagem é essencial, e que começa muito antes do que se pensava anteriormente. O que isso significa? Podemos agora analisar os pontinhos individuais que criam a totalidade de uma imagem. Começamos a desvendar a ligação entre a natureza e a criação: como nosso ambiente pode se comunicar conosco e nos alterar, às vezes, para sempre. Nosso DNA é um roteiro, não um modelo, e o modo como nos apropriamos dos eventos em nossas vidas pode mudar a expressão física da biologia celular, e isso dará sentido às nossas vidas e às futuras gerações. Em outras palavras, temos o poder de compor os desdobramentos biológicos. Isso é poderoso.

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O que aprendemos antes de nascermos

A vida social dos genes

Decifrando a ligação entre natureza e criação

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